Vivo em uma metrópole cuja alma reside na cultura migrante. Chamo de migrante àquele que veio de outro país e ou que veio de outro estado brasileiro por qualquer condição. Eu sou paulistano, filho de baianos, emigrantes do final dos anos 60 para aqui ajudarem a construir os novos tempos. E então, desde minha infância até hoje sou beneficiado com a interação, seja de um migrante como de um descendente dele.

Na periferia onde vivi, quem me ensinou a ler, a escrever e a calcular foi uma professora afrodescendente. Na padaria e no bar, meu pai fazia as compras pagando fiado para o português. E na rua perto do ponto final do ônibus, tinha a loja do Sêo Dante, italiano e apaixonado pelo “Palestra Itália”. Brincava nas ruas e ficava com sede, então passava no bar do Ceará para pedir um copo d’água.

Da adolescência à fase adulta contemplei um desenvolvimento profissional e acadêmico sempre amparado por migrantes ou descendentes de 1ª, 2ª ou 3ª geração. Meus primeiros empregos foram em empresas de italianos e de portugueses. Meu professor mais marcante do técnico em contabilidade foi um filho de oriundi (italiano) dos mais falantes e entusiastas. Me inspirou a gostar da profissão e acreditar na força do comércio como agente de paz e do desenvolvimento. Já na faculdade, a diversidade se amplia e passo a interagir com japoneses, alemães, gaúchos, mineiros, chineses e muitos outros.

Em paralelo, fui trabalhar numa das maiores firmas internacionais de auditoria. Nela, a diversidade se amplia ainda mais! A começar então pelo presidente, um inglês de ascendência armênia, passando por chefias, executivos, clientes, fornecedores e colegas americanos, ingleses, neozelandeses, alemães, japoneses, espanhóis, coreanos, árabes, suecos, fluminenses, nordestinos, chilenos, judeus, mexicanos e etc.  Não se trata somente de uma interação formal, fechada ao profissional. A cultura de cada um acabava influindo no aprendizado e dinâmica de como se faziam as coisas. E como as diferenças de cada estilo nos moldam a uma melhor compreensão e convívio.

Pratico trabalho ético com teoria e prática trazida destas pessoas. Eu vi dedicação obstinada de alguns, criatividade, astúcia, improviso, seriedade, postura, aprendizado contínuo, valores, atitudes, disciplina, irreverência, bom humor, pragmatismo e bom senso em outros.

Por exemplo, no início dos anos 90, quando o país sequer tinha 200 atuários, pude trabalhar com um sábio atuário argentino. Pude também buscar equilíbrio na prática da ioga, por professora de ascendência cigana. E vi emergir uma mescla racial que soube trazer o melhor da cultura da mãe, do pai e do entorno. E claro, novas gerações, novas ideias e tudo integrado ao que ocorre com o resto do Mundo. Isto em São Paulo é bem evidente, basta a pessoa perceber a força centrípeta da capital que atrai a tudo que interessa em termos de inovação e transformações.

E onde mais pude perceber os benefícios da força migrante? Sem dúvida na culinária! Como explicar a emoção que foi apreciar pratos árabes que tão habilmente soube combinar carne moída, hortelã e temperos naturais? E constatar que o que chamamos de “árabe” é na verdade uma mescla de armênio, sírio, libanês, turco. Daí parte-se para a estética e minimalista culinária japonesa, para a forte carne gaúcha e seus rodízios, para a saudável comida mediterrânea e sua contraparte, as pastas italianas. E a experiência de uma feira de rua ou do Mercado Municipal? Pastel da banca do japonês, ceviche peruano com bastante limão, hambúrguer americano, moqueca baiana e capixaba, plátanos verdes equatorianos, doces mineiros, tererê paraguaio-guarani e muito mais.

Concluo disto tudo que nossa evolução pessoal, comunitária, nacional, planetária passa pela maior interação e troca das diferentes culturas, em ambiente livre, ecumênico e responsável. Portanto, que venham mais migrantes e com eles construiremos os verdadeiros pilares da paz mundial. São Paulo agradece!

Eduardo Nunes Carvalho é contador, filho da migração nordestina e baiana em São Paulo.

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