Recentes ou há muitos anos no país, eles nos contaram durante a 11º Marcha dos migrantes em SP quais direitos básicos ainda tentam garantir
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Quem andava pela avenida Paulista, em São Paulo, no último dia 03 de dezembro, pôde ver uma representação dos migrantes que habitam a cidade, unidos, andando por algumas das diversas lutas que afligem esta parcela da população .
Acontecendo pela sua 11º vez no Brasil, a marcha é fruto da mobilização mundial dos imigrantes criada pela ONU e este ano teve o tema “Pelo fim da invisibilidade dos imigrantes” como base.
Apesar de terem muitos direitos garantidos em teoria, as dificuldades dos migrantes, principalmente os que estão há menos tempo no país, muitas vezes ocorrem por falta de informação e um apoio real que garanta a eles os direitos constitucionais de adquirirem documentos que regularizem sua situação no país.
Alguns grupos de países africanos comprovaram isso. Estava lá, por exemplo, um grupo formado por diversos homens vindos de Togo, na África, dentre eles, Talko, de 32 togo há 4 anos no Brasil, que é marceneiro e participava pela primeira vez na marcha. Para ele, a principal luta de imigrantes, refugiados e deslocados que vivem em São Paulo hoje deve ser por melhores condições de trabalho.
“Aqui se fala que não tem trabalho escravo, mas para trabalhar em firma, precisamos de documentos e nem sempre conseguimos. Como vou fazer para arrumar emprego sem documento?”, diz.
O problema é compartilhado pelo mauritano Bou, 28, da Mauritânia, que há 10 meses no Brasil. “Não consigo emprego. Para trabalhar preciso tirar o RNE e é muito difícil”.
Também a falta de acesso aos serviços de saúde pública, apesar de ser um problema para grande parte dos brasileiros, pode ser ainda pior, quando se é de outro país.
“Meu filho sofre de uma alergia forte, mas quando vou marcar consulta eles (funcionários do posto de saúde) sempre marcam para muito longe, pois sabem que como somos “de fora” não vamos reclamar. Sentimos que as portas para nós estão fechadas. Nós não somos invisíveis e é por isso que nós marchamos. Queremos respeito.”, contou a boliviana Julieta, 30, que participava pela quarta vez da marcha.
À esquerda
A luta por direitos humanos básicos deixa claro que o problema piora conforme o cenário político e econômico do país.
Segundo uma pesquisa divulgada no começo deste ano pela Missão Paz, organização da Igreja Católica que atende a população imigrante, refugiada e deslocada, no centro da cidade, em 2016 apenas 371 pessoas conseguiram emprego por este intermédio. Em 2014 foram 2.739 contratações.
Soledad, peruana que mora há 5 anos no brasil, trabalha com tema de gênero e imigração em SP e participava da marcha, aponta que, para que a situação melhore, o principal direito a ser conquistado pelos imigrantes, refugiados e deslocados deve ser o direito ao voto.
Ela explica que o momento político do país tem refletido em grupos de imigrantes que “acabam se juntando a grupos de políticas neoliberais que nunca se interessaram de fato pelas causas, mas que insistem em ‘carregar a bandeira”,”
O lado positivo é que o momento traz um sentimento muito mais forte de organização política e resistência:
“Há aqueles setores que resistem porque entendem que algumas saídas para conquistar direitos é a questão da luta mesmo. Não dá para conciliar com a direita. Então nossa proposta é agrupar com os setores de esquerda progressista. Aqui no Brasil é muito mais forte: ou você luta pela conquista dos direitos já adquiridos, ou você está contra isso. Não há como ficar ao meio.”, completa.