Por Aline Nogueira de Sá

Foi oficializado na última quarta-feira (28 de fevereiro) o processo de mobilização que pretende garantir a presença de migrantes e refugiados que residentes no Brasil no Fórum Mundial das Migrações – México 2018.

A oficialização ocorreu durante a Plenária Pública e Nacional organizada por imigrantes e refugiados de diversos grupos, coletivos e redes junto a ativistas das causas relacionadas às pessoas migrantes no mundo e suas lutas.

O evento contou  participantes da base comunitária, que durante todo o evento puderam assistir ás falas relacionadas a temas como refúgio, pesquisa humanizada, imigração latino-americana entre outros.

As explanações, de forma geral, mostraram a importância de que o migrante seja visto como um cidadão do mundo e reforçaram a importância de que haja cada vez mais espaços de fala para que todos caminhem juntos em busca de soluções para melhores condições às vidas dos migrantes que aqui estão.

A fala final, da imigrante equatoriana e educomunicadora, Jenny de la Rosa, foi para pedir apoio à mobilização do grupo para levar até as comunidades um processo educativo de informação sobre o que o Fórum Mundial das Migrações representa e outros processos democráticos como a nova lei de migração, ambos temas pouco ou nada conhecidos pelas populações de base.

“Esperamos que possamos caminhar aos poucos no reconhecimento do direito da ocupação dos espaços de fala pelos protagonistas da temática migratória. Nosso processo de mobilização, que chamamos de Compromisso Migrante Brasil 2018, quereremos chegar a todas as organizações e instituições para que nos acompanhem na caminhada.”

Todo esse processo é um primeiro passo cujo objetivo é levar a presença de alguns destes migrantes ao FSMM2018 e abrir espaços para discussões que vão além do México e este seja possivelmente o nosso maior objetivo.

“A organização Miredes Internacional, hoje encarregada da organização doFSMM2018 fez uma grande avalição e planeja uma nova forma de ver o Fórum Social das Migrações como um processo principalmente social. Como mobilizadores, então, a nossa tarefa é contribuir para que aqui no Brasil essa transformação se inicie e isso não pode acontecer de outra forma que não falando com os migrantes e refugiados, indo ao encontro deles para que realmente esse protagonismo seja social. Sabemos que ao escutá-los começaremos a entender as reais expectativas que eles têm, e muitas vezes continuam ocultas e invisíveis”, completou a educomunicadora.

Capítulo à parte merece o apresentador da plenária, o marroquino Aymane  Jalil, que se autodenominou cidadão do mundo e, estando altamente preparado, mostrou o quanto um imigrante pode aportar ao país.

Veja algumas das principais falas durante a Plenária Pública e Nacional:

“É preciso nos organizarmos contra o conflito e o preconceito até a construção da nossa nova identidade aqui no Brasil. O Brasil hoje em dia é nossa casa também. Assim também nos sentimos brasileiros, por isso não vamos mais nos vitimizar, mas sim, criar um mundo de troca de sensibilidade a partir de esperança de um novo local.” Jean Katumba – Nativo de Kinshasa, República Democrática do Congo, vive há 4 anos no Brasil. Formado em Engenharia Civil pelo Politécnico UNIKIN de Kinshasa/ RDC. Atualmente presidente da Ong África do coração.

“Para nós que deixamos nossa pátria, nossa terra, nossa cultura, familiares e amigos há um rombo muito mais profundo e doloroso. A palavra refugiado vem carregada de sentido, como renúncia e esperança, medo e saudade. Ser refugiado significa acessar a memória e encontrar uma série de sonhos desfeitos, soterrados por uma avalanche de tristezas e inconformidade, de dor. Nosso estilo de sobrevivência nos obriga a sermos fortes, mas isso não significa que a dor não esteja ali. Isso acontece comigo e com todos os irmãos refugiados. Buscamos sufocar nossa dor em nome da existência e da nossa sobrevivência.” Abdulbaset Jarour – Há 4 anos no Brasil – Sírio. Vive há 4 anos no Brasil, cursava Adm. de Empresas na Universidade de Aleppo, empreendedor, palestrante e atual vice-presidente da ONG África do Coração.

“Será que realmente é uma vida melhor?”. Pensando na imigração latino-americana, eu vejo que a gente ainda hoje em dia vive preso à essa pergunta e à essa obrigatoriedade de se justificar. Então se a gente considerar o refúgio e a perseguição política, ás vezes é meio natural que as pessoas entendam. Mas e os latino-americanos? Eu fui crescendo com essa angústia de que quem é que vai acreditar na gente que é pra ter uma vida melhor se a gente não vive melhor. Até que eu ouvi de uma professora: ‘Para de tentar justificar porque as pessoas migram. As pessoas se movem apenas em busca de uma coisa: felicidade. Se essa felicidade é sinônimo de se manter vivo, ok. Se essa felicidade é sinônimo de poder dar mais condições financeiras para sua família, ok.’ Se a felicidade -no caso da minha família é o sonho de que as mulheres estudem, é a felicidade e quem somos nós para julgar?”  Verônica Yunra – imigrante boliviana, trabalhadora da saúde, idealizadora e integrante do Coletivo Sí, yo puedo desde 2012.

“É preciso reivindicar que as produções de conhecimento por meio da pesquisa devem e tem que atrelar a questão ética. E nesse sentido, o trabalho de campo, o processo de escrita assim como a difusão e o retorno social, devem ser uma consequência visível da pesquisa sobre questões migratórias. Não obstante, são poucos os pesquisadores que realizam o feedback das suas pesquisas entendendo a devolutiva não como um pensamento, e sim como um espaço de reflexão conjunta onde entrevistados e e entrevistadores se reúnam para a produção de um conhecimento que seja útil para a sociedade.” Hiordana Bustamante. – Imigrante boliviana e doutoranda em psiquiatria e psicologia médica na Unifesp em pesquisas relacionadas a migração e seu impacto na saúde mental.

“O bullying com o jovem migrante é muitas vezes a falta de informação e os jovens são abertos a aprender. O nosso jovem precisa ser olhado e trazido para essa realidade. Muitas vezes ele tem vergonha e a gente precisa levar para ele que ele não está ocupando o lugar de ninguém. Ele pode ocupar qualquer lugar no mundo. O professor é o mediador desse conhecimento.” – Marlucia Silva VieiraProfessora de Língua Inglesa da rede Estadual de São Paulo. Professora do Ensino Fundamental e Orientadora de Estudos rede Municipal de Guarulhos. Coordenadora do Curso de Português do Coletivo Si, Yo Puedo.

“A quantidade de brasileiros n mundo, segundo os últimos relatórios consulares é de que tem mais de 3 milhões de brasileiros no mundo, e eu acho que isso mostra um pouco da fluidez da coisa, do migrar, da mobilidade e eu acho que é comum tanto para os brasileiros que estão no mudo, quanto para o mundo que vem para o Brasil e toda essa coisa das trocas de nacionalidades, é que os migrantes passam por algumas situações comuns e a gente começa a se perceber migrante quando a gente começa a ser tratado diferente por não ser daquela nação onde a gente está, porque tirando isso é um passo a mais de terra.  Somos pessoas também. Você percebe quando seu diploma leva anos para ser reconhecido e quando você tenta atuar na sua área de trabalho e muitas vezes não pode. Isso é muito difícil numa questão identitária inclusive.” Vivian de Souza – Educadora não-formal e professora, trabalha na criação e implementação de projetos em Educação em diversas áreas e para diversos públicos.

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